Conto Parte 04 - Respostas
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O coração de Ronaldo quase saiu pela boca, ao ouvir outra voz que não a dele. Instintivamente ele se virou para o canto da sala num pulo, o player digital caiu no chão. Num primeiro momento, ele viu uma pessoa, em pé, próxima a um sofá que o rapaz havia colocado ali para descansar entre suas vigílias. Ela se aproximou quando viu que o jovem estava quase desmaiando.
O coração de Ronaldo quase saiu pela boca, ao ouvir outra voz que não a dele. Instintivamente ele se virou para o canto da sala num pulo, o player digital caiu no chão. Num primeiro momento, ele viu uma pessoa, em pé, próxima a um sofá que o rapaz havia colocado ali para descansar entre suas vigílias. Ela se aproximou quando viu que o jovem estava quase desmaiando.
Ao se
aproximar, a pessoa se revelou ser uma mulher idosa, por volta dos
setenta anos de idade. Vestia uma calça jeans, camiseta e um casaco
de couro velho, onde o material já rachou em vários lugares. Seus
cabelos cacheados longos e prateados estavam presos em um rabo de
cavalo.
Ronaldo tentava recobrar o fôlego.
Deu alguns passos para trás ao notar a aproximação da estranha
figura. Tremia devido ao susto, parecia que ia perder o equilíbrio
quando foi amparado pela idosa. Seus olhos estavam fixos nela. Não
tinha ideia de quem era, embora notasse algo familiar naquele rosto
marcado pela idade.
A senhora puxou a Giroflex e o
acomodou nela. Ela se apoiou na mesa, de frente pra ele. Ronaldo
notou que a expressão em seu rosto, era como o de uma pessoa que
encontra alguém que não via há muito tempo. Ela ficou ali
contemplando o rosto pálido do rapaz por alguns instantes, até ele
se recuperar do susto.
- Você está bem? - Perguntou a
mulher.
-A-Acho que sim…
- Com certeza você tem muitas
perguntas…
- Isso é lógico. - interrompeu o
rapaz. - Mas a única que consigo pensar é, de onde você veio?
-Isso é… complicado. -
Respondeu a mulher se levantando de onde estava e indo em direção
ao sofá.
Foi quando Ronaldo reparou no
casaco que a idosa estava vestindo. Ele o conhecia muito bem. Um gelo
percorreu sua espinha. Seu coração se encheu de uma mistura de
receio e alegria. “Será?”, ele pensou.
- Iliana… é você?
Ela parou, lentamente se virou
para o rapaz.
- Não sou Iliana.
- Mas.. é o casaco dela…
- Verdade, ela me deu há alguns
anos… Pediu que eu guardasse para quando me encontrasse com você…
Após essas palavras uma sombra se
formou no semblante da mulher. Ela se virou e continuou seu caminho
até o sofá. Pegou uma bolsa que estava sobre o móvel. E retornou
até onde Ronaldo estava. Ela aparentava um certo nervosismo.
Ronaldo estava confuso. Por que
aquela senhora estava usando o casaco de sua namorada? Quem seria
ela? E, o mais importante, como ela chegou até ali? Ao se aproximar
da mesa, Ronaldo já havia ligado as luzes sobre ela, então ele pôde
ter uma boa visão do rosto de sua visitante. Quando ela se
aproximou, um lampejo percorreu seu cérebro. Ele a conhecia! Só que
ela era bem mais jovem, seus cabelos eram cor de fogo e tinha sardas
em seu rosto. Os olhos do rapaz se encheram de lágrimas. Ele pegou
sua mão.
- Valeska…
Ela olhou para ele surpresa, não
esperava que ele a reconhecesse tão rápido. Sua colega de classe
que partira há três meses junto com Iliana e os outros, estava de
volta. A emoção nos olhos daquela senhora mostrava que a dedução
de Ronaldo estava correta. Eles se abraçaram como quando velhos
amigos, que não se veem há décadas, se encontram. Ficaram ali,
abraçados por alguns instantes. Quando se largaram, haviam lágrimas
em seus olhos. Tentando conter a emoção do momento, Valeska enxugou
suas lágrimas e se voltou para a bolsa que trouxera. Sua voz ainda
estava um pouco trêmula.
- Não temos muito tempo para
explicações, mas vou fazer um resumo: Após nossa partida,
percorremos um bom trecho no meio da névoa. Não lembro a certo
quanto tempo ficamos perambulando, mas pereceram meses. Quando
finalmente chegamos ao final daquele pesadelo encontramos uma terra
devastada. Decidimos deixar o ônibus ali, poderíamos precisar dele
com combustível caso precisássemos que você o chamasse de volta, e
continuar a pé. Não precisamos andar muito e logo fomos
interceptados por um grupo de helicópteros militares… Olha,
basicamente, o que aconteceu aqui naquele dia, causou uma destruição
que chegou até os arredores de Moscou...
- Moscou!? Mas isso fica a quase
trezentos e cinquenta quilômetros!
Valeska confirmou com um aceno e
continuou.
- Desde o incidente, toda a região
afetada era monitorada, por isso nossa chegada foi percebida. Fomos
levados até uma base onde fomos interrogados sobre o que acontecera.
Ficamos ali meses até os militares se convencerem de que não
sabíamos o que causara tudo aquilo. Mas, o incrível é que eles
estavam ali vigiando a região afetada e o local do evento há trinta
e sete anos! Ronaldo, nós viajamos quase quarenta anos no futuro ao
atravessar aquela névoa!
Ronaldo não conseguiu esconder
sua descrença.
- Sei que é difícil de
acreditar! Mas você mesmo reconheceu o casaco da Iliana! Veja! Essa
não é a marca de queimadura de ácido de quando você derramou sem
querer nele, no laboratório, quando vocês se conheceram?
Ronaldo olhou a marca e teve
certeza que era o casaco de sua namorada.
- Então, por que você
envelheceu?
- Quando obtivemos autorização
para resgatar você, Iliana foi a primeira a se voluntariar mas, Olaf
não permitiu, foi ele quem o convencera a ficar para trás, era ele
que deveria trazê-lo de volta. Mas, quando ele entrava na névoa
para chegar até você, ele simplesmente saia do outro lado.
Percebemos, então que você estava fora de nosso alcance. Chegamos a
conclusão de que esse lugar é como uma bolha no continuum
espaço-tempo. E ela se tornou como que uma encruzilhada onde todas
as linhas temporais convergem para cá, até as alternativas. Você
estava lacrado aqui dentro.
- Mas, como conseguiram sair?
- Até há pouco tempo não
fazíamos ideia. Descobrimos que haviam brechas na bolha, causadas
por essas linhas temporais, como uma torrente. Quando Olaf captou o
sinal de rádio. Foi através de uma dessas brechas. Tivemos sorte de
sair daqui trinta anos no futuro. Podíamos ter saído quinhentos
anos no passado e sido queimados na fogueira da Inquisição, como
bruxos… Ou na época dos dinossauros.
- Então, como você conseguiu
chegar aqui?
- Descobrirmos que o sinal de
telemetria do velho módulo ainda funcionava, então, de alguma
maneira, ele chegava até você. Deduzimos que se fizéssemos você
trazer o módulo de volta, poderíamos segui-lo e então encontrar a
fenda por onde ele passou originalmente. Causamos uma pequena pane na
telemetria, instantes depois o ônibus começou seu caminho de volta
pra cá. Isso foi há trinta anos…
-Espera ai! Tá me dizendo que
demorou trinta anos para você chegar aqui?
- O tempo aqui dentro passa mais
devagar do que do lado de fora. Os dados que obtivemos quando o
modulo partiu eram complexos demais, foi necessário esse tempo para
entendermos.
- E Iliana, por que ela não veio?
O rosto de Valeska ficou triste.
- Veja meu rosto, minha idade…
Coisas acontecem com passar do tempo. O tempo de Ilinana não foi o
suficiente para chegar até o momento de te ver de novo…
Ronaldo sentiu um nó na garganta.
- Quanto tempo?
- Até entender os dados obtidos
com o módulo e desenvolver a tecnologia para entrar aqui…
cinquenta anos…
- C-como ela partiu? - Perguntou o
rapaz não podendo mais segurar as lágrimas.
- Em paz, pois sabia que você
seria capaz de sair daqui…
Ronaldo chorou. Mais uma vez
estava sozinho. Passara os últimos meses, suportando aquela solidão,
na esperança de que iria ver seus amigos e a garota que amava
novamente, mas, mais uma vez o destino lhe tirava tudo de novo.
Valeska tentou consolá-lo, sem muito sucesso. Após algum tempo
naquela situação, sentindo o peso de um universo em suas costas, a
atenção do rapaz é atraída pelas equações matemáticas
espalhadas nas paredes da sala.
- Por que… Por que escreveu
essas equações?
Valeska olhou em volta, com
expressão intrigada.
- Não fui eu… achei que tinha
sido você…
- Não, faz dias que não saio do
meu quarto! Quanto tempo faz que você chegou?
- Estou aqui há cerca de três
horas… Ronaldo, se não foi você e nem eu quem fez isso… Tem
mais alguém aqui.
Continua...
Corre! A Parte Cinco já está on line!
Conto Parte 04 - Respostas
Reviewed by Tulio Roberto
on
11/30/2016 03:38:00 PM
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