Conto: Parte 2 - Partida e Retorno
Se esta chegando agora leia a Parte 1 primeiro.
Os últimos volumes foram colocados na parte de trás do Módulo. Ninguém estava entusiasmado com a partida, estava estampado nos rostos daqueles vinte e tantos sobreviventes que eles não sabiam se, o que eles estavam para fazer daria certo ou não. Encostado numa parede está Ronaldo examinando um velho relógio Zênith. Foi quando uma moça de cabelos vermelhos e um pouco de sarda no rosto se aproximou.
Os últimos volumes foram colocados na parte de trás do Módulo. Ninguém estava entusiasmado com a partida, estava estampado nos rostos daqueles vinte e tantos sobreviventes que eles não sabiam se, o que eles estavam para fazer daria certo ou não. Encostado numa parede está Ronaldo examinando um velho relógio Zênith. Foi quando uma moça de cabelos vermelhos e um pouco de sarda no rosto se aproximou.
- Conseguiu fazer funcionar?
Sem tirar os olhos do aparelho,
Ronaldo respondeu:
- Não… Ele parou depois do
clarão… é um relógio antigo a corda, do meu avô.
- Deve estar magnetizado. -
Respondeu a garota.
- É… deve ser isso… -
Respondeu Ronaldo, levantando os olhos e encontrando o rosto de
Valeska, sua colega de classe.
Deu uma olhada em volta.
- Viu a Iliana?
Sabrina deu de ombros.
- Não… Mas, parece que ela está
com o professor, lá onde eles estão montando os equipamentos... Ah!
Não! Olha eles ali!
Ronaldo olhou na direção
indicada pela colega, viu o Professor Olaf de Física Quântica e uma
bela jovem de cabelos louros e extremamente lisos. Ela usava um
casaco marrom e botas de cano longo. O rapaz sentiu um peso em seu
peito, só de pensar no que poderia acontecer se desse tudo errado. E
a sensação só piorou quando lembrou da sua responsabilidade
naquilo tudo. Ele se levantou e foi em direção à garota.
- Como você está? Parece tenso?
- Perguntou a jovem depois de dar um beijo no rapaz.
Depois de hesitar um pouco, ele respondeu.
- Estou, sim. Tudo o que
aconteceu, esse céu laranja, a Fronteira… e agora esse plano
maluco do Olaf… - Tô com medo de que mais alguma coisa ruim
aconteça… principalmente com você…
- Sei que é aterrador se sentir
impotente. Mas é melhor tentarmos alguma coisa do que ficarmos aqui
esperando que elas aconteçam. Também estou com medo, todos
estamos, mas o que me motiva a enfrentar essa viagem é que você
está cuidando de nós. O melhor aluno de Física Quântica da
Faculdade de Ciências de São Yaroslav!
Ronaldo deu um leve sorriso.
- Sou só um aluno de intercâmbio…
Iliana interrompeu o rapaz
colocando o indicador em seus lábios.
- O melhor aluno de intercâmbio.
- E deu um beijo em sua boca.
- AHAM…
A atenção do casal foi desviada
para alguém que já estava há algum tempo ali.
- Professor… - Cumprimentou
Ronaldo.
- Desculpe interromper, mas
preciso passar a você algumas instruções…
- Tudo bem…
Ronaldo voltou-se para Iliana.
- Já volto.
- Tudo bem, vai lá.
Ronaldo saiu então, acompanhado
do professor Olaf, ele não viu a expressão sombria que se formou no
rosto da garota.
* * *
Ronaldo corria pelo corredor mal
iluminado. Chegando às escadas, não diminuiu o ritmo, o que o fez
perder o equilíbrio e quase cair rolando escada abaixo. Xingou a ele
mesmo por tamanha imprudência. Qual seria a valia de ele ter ficado
para trás se ele quebrasse o pescoço? Continuou descendo andar por
andar até chegar na saída do prédio.
Hesitou. Ele não saída do prédio
desde a partida. Olhou por algum tempo para o pátio da Faculdade
todo salpicado de manchas escuras. Aquela visão lhe causava
calafrios. Respirou fundo e abriu a porta de vidro. Descendo a
escadaria do prédio parou e contemplou uma mancha logo no início
dos degraus.
Ronaldo ficou parado ali até que
ouviu um barulho de motor a diesel ao longe. Voltou a correr na
direção da antena. Então era verdade. O Módulo estava retornado
ao local de origem assim como o Professor determinara.
Mas Ronaldo estava intrigado, eles
saíram há três meses, como o módulo só estava a cerca duas horas
de distância do local de partida? A telemetria informava uma
distância de 257Km há cerca de dois meses. Ele ficou tentado a
resgatar o módulo várias vezes, mas ele resolvera seguir as
orientações de seu professor de que ele só poderia dar o comando
de resgate se houvesse uma falha grave do sistema ou um pedido de socorro. O erro na
telemetria pareceu um bom motivo pra isso.
O Módulo nada mais era do que um
ônibus da faculdade adaptado para uma longa viagem. As janelas foram
reforçadas com chapas de aço e o para-brisas recebeu uma grade com
barras de ferro. Tanques adicionais de combustível foram instalados.
Para o retorno, foi instalado um sistema de controle autônomo, um
“presente” da equipe do laboratório de robótica avançada que
trabalhava num projeto para as forças armadas.
Ronaldo chegou à antena, nem
sinal do Módulo, mas ele ouviu o barulho do motor. O local de
partida não foi escolhido ao acaso, Ronaldo e o professor passaram
um bom tempo, logo depois do Evento, escaneando todo o espectro de
radiotransmissão, tentando encontrar algum meio de se comunicar com
alguém além da Fronteira. Até que um dia conseguiram encontrar um
sinal fraco de rádio, tão fraco que só durou o tempo suficiente
para determinarem de onde vinha. Não de onde especificamente, mas de
qual direção. Fizeram uma reunião com todos, e em votação,
decidiram irem em direção à origem do sinal. Mas, alguém
precisava ficar para trás, para monitorar o andamento e, se fosse
preciso trazê-los de volta. Ronaldo se ofereceu, ele queria que
Iliana e os outros tivessem uma chance de sair daquele pesadelo. Ele
sabia que as chances de voltarem para buscá-lo eram nulas, mas ele
queria tirar Iliana dali de qualquer jeito.
Ronaldo estava absorto nessas
lembranças quando viu o veículo emergir da densa névoa. O ônibus
andou mais algumas centenas de metros até parar no ponto exato de
onde partira. Durante esse tempo, Ronaldo observava o módulo
atentamente esperando ver algum movimento em seu interior, mas as
chapas de metal e a grade na frente dificultavam a visão. Outra
coisa chamou a atenção do rapaz quando o veículo chegou mais
perto, ele parecia ter envelhecido, pintura desbotada, empoeirado como aqueles carros que ficam abandonados nas ruas e ferrugem
surgindo nas chapas soldadas nas janelas, não condiziam com o tempo
em que esteve fora.
O módulo parou.
O rapaz ficou parado, ao lado do
ônibus, aguardando qualquer sinal de vida em seu interior. Como não
viu movimento algum, começou a ficar apreensivo. Esperou mais alguns
instantes. Criou corarem e abriu a porta. O suor escorria em seu
rosto, ficou parado diante da porta aberta do veículo, esperava encontrar os corpos de
seus colegas, mas o que lhe apertava o coração era a possibilidade de ver que Iliana
também estava entre os mortos. Ele meteu a cabeça pela porta e olhou para dentro.
Conto: Parte 2 - Partida e Retorno
Reviewed by Tulio Roberto
on
11/16/2016 10:02:00 AM
Rating:
Nenhum comentário