Conto: Parte 7 - DMC-12
O
silêncio reina na paisagem, nenhum movimento é percebido não há vento e a
ausência de aves e pequenos animais ajuda na composição do cenário melancólico
que se encontra o Campus da Universidade de São Yaroslav. Tem sido assim desde
a malfadada experiência com antigravidade do Professor Medvedev, que
praticamente isolou toda a região do resto do universo, mas as coisas estão
prestes a mudar neste lugar fora da realidade.
Aos
poucos, é percebido o ruído de um motor ao longe. O som vai aumentado
progressivamente até que um DeLorean DMC-12 rompe a barreira de névoa que cerca
o campus. O carro para em seguida, o motorista não sai do carro, espera alguns
instantes até ter certeza de que seu perseguidor perdeu seu rastro. Passado
esse tempo, o homem no interior do veículo resolve sair. O ocupante do carro
tem uma aparência desgastada pelas várias tentativas de sair daquele lugar,
quatorze ao todo, todas fracassadas.
Mas
aquela viagem tinha um objetivo diferente. Sua missão não era sair dali, e sim,
deixar uma mensagem. Seu tempo era curto. Sua presença ali era uma anomalia. Logo,
o fluxo temporal existente dentro daquele microverso iria se corrigir e ele
seria apagado, como se ele nunca tivesse estado ali.
Rapidamente,
o motorista se dirige para o prédio da Faculdade de Física. Ele precisa chegar
até uma determinada sala. Passando pelo pátio, ele dá uma olhada para um ônibus
velho parado perto de uma antena parabólica. Presta atenção a fim de perceber
algum movimento.
“Ela
ainda está lá esperando, ainda dá tempo. ” – Pensou
Ele
apressou os passos entrou no prédio e com cuidado ele não podia ser
surpreendido pelo “morador” do local. Pelo que se lembra, ele ainda estava
trancado em seu quarto tentando superar o fato do ônibus estar vazio. Ele
percorre os corredores fazendo o mínimo de ruído, finalmente ele chega ao seu
destino, a sala de controle de Ronaldo. Sem perder tempo ele começa a escrever
fórmulas matemáticas na lousa e percebe que não vai ter espaço para tudo no
quadro da sala, passou para as paredes.
“Eles
vão entender! Tem que entender! ”
Ele
ficou ali apenas o tempo suficiente para terminar sua tarefa. Quando estava
saindo da sala ele ouve passos arrastados no corredor.
“É
ela! Valeska deve estar chegando para me encontrar quando eu sair do quarto! Ela
não pode me ver! “
Ronaldo
olhou em volta e a única saída que via era sair pela janela, mas ele estava no
terceiro andar. Era um longo caminho até o chão. Ele estava avaliando as
possibilidades quando sentiu um leve tremor em suas mãos.
“Está
começando”
O
tremor foi se espalhando até tomar conta de seu corpo. Se movimentar ficou
difícil, assim como pensar. A única coisa que conseguiu fazer foi se ajoelhar e
se abraçar para tentar diminuir a horrível sensação. A fechadura da porta se
moveu, ela ia entrar e vê-lo. O tremor aumentou ele se jogou deitado no piso da
sala. Já não controlava mais seus movimentos, aos poucos, o corpo de Ronaldo
começou a desaparecer como uma leve névoa branca. Quando a porta, finalmente se
abriu, Valeska achou que havia alguém ali, mas após dar uma olhada na sala só percebeu
uma janela aberta. Fechou-a e então percebeu as equações escritas nas paredes,
se indagou no que Ronaldo estava trabalhando. Algumas ali eram conhecidas outas
nunca tinha visto na vida. Ela ficou se perguntando quanto a sanidade mental do
colega de classe. Foi com esses pensamentos na cabeça que ela ligou o player de
música. Esboçou um leve sorriso quando começou a tocar Still Got The Blues e se
dirigiu para o sofá no canto da sala, a fim de esperar por Ronaldo.
* * *
-Corre!
Entra no carro!
A
idosa Valeska mal podia se mover, tanto era o terror de ver um dinossauro
predador indo em sua direção. Com um puxão, Ronaldo praticamente jogou a
senhora dentro do DeLorean do professor Olaf. Pulou por sobre o capô e sentou
ao volante, já dando partida, o motor ligou de primeira. O Velociraptor estava
quase encima deles. O carro saiu derrapando os pneus, mas o animal não diminuiu
o passo podia-se ver a sanha assassina em seus olhos, assim como em seu
terrível sorriso.
-Ele
ainda está atrás de nós! – Valeska estava atônita.
-Eu
tô vendo!
-Tem
alguma arma aqui?
-Isso
aqui é uma universidade, não um quartel do exército! – Reclamou o rapaz,
enquanto dirigia a esmo, tentando imaginar uma saída daquela situação.
Foi
quando o motor começou a falhar. Os dois ficaram ainda mais desesperados.
Ronaldo olhou para o painel do carro e o marcador de combustível estava no
vazio.
-Ah,
merda! Olaf, seu muquirana! Nem pra deixar o tanque cheio!!!
O
carro parrou. Os dois se olharam e imediatamente olharam para trás, tentando
visualizar seu perseguidor. Estranhamente ele diminuiu o passo e ficou olhando
o carro imóvel de longe. Como um caçador experiente que já tinha enfrentado uma
presa parecida, ele sabia que aquilo poderia ser um truque.
Os
ocupantes do carro estavam ofegantes, de tanta tensão. Ronaldo pensou o um
pouco, se virou para Valeska e disse:
-Olha,
vamos fazer o seguinte. Eu saio do carro e atraio a atenção do bicho e quando
ele vier atrás de mim você corre para o prédio da Física.
-Qu....
Quem você achou que eu sou? Tenho 70 anos! Como vou correr até lá!
-É
o único jeito! Pelo menos eu tenho mais chance de correr dele do que você.
-Ah
tá! Ele consegue acompanhar um carro e você acha que consegue correr mais do
que ole? E tem mais...
-Ele
tá vindo...
Dizendo
essas palavras, Ronaldo abre a porta gaivota do carro.
-Ronaldo!
Para!
Ele
não deu atenção aos pedidos de sua amiga e sair em disparada. O raptor mordeu a
isca e foi em seu encalço. A Valeska só restava aproveitar a oportunidade e ir
para o prédio onde seria mais seguro.
* * *
Os
pulmões de Ronaldo estavam queimando. Há quanto tempo ele não fazia exercícios físicos?
Ele não lembrava. A única coisa que sabia era que precisava encontrar alguma
coisa com que se defender da criatura pré-histórica que se aproximava a cada
passo. Encontrou uma barra de fero no chão, há alguns metros dele, com muito esforço
ele a alcançou. Quando se abaixou para pega-la, sentiu um empurrão, era o
animal, ele o alcançara.
Ele
rolou sobre a barra e a pegou. Sem ter tempo de olhar para trás, balançou a
barra na tentativa de acertar em alguma coisa. Deu resultado. Ele acertou o
rosto do animal em cheio, mas isso só deixou o irritado, contudo, Ronaldo
ganhou tempo para se afastar. Ele correu até a entrada de um dos prédios
próximos, a besta, já recuperada do golpe, estava apenas há alguns metros dele.
“Uma
porta, tomara que esteja aberta... “
O rapaz
se projetou para entrar pela porta e tentar fechá-la, deixando o raptor para
fora. Ele bateu com tudo numa porta trancada. Meio atordoado pelo impacto, ele
se virou para enfrentar o se perseguidor. Sabia que era seu fim, empunhou a
barra de ferro de esperou o inevitável, o animal se aproximava rapidamente.
Estava salivando, sentindo o gosto da carne e do sangue de sua presa. Quando de
repente, tropeçou e caiu aos pés do atônito rapaz.
Ronaldo
ficou surpreso com o imprevisto, após um momento de indecisão, empunhou a barra
em suas mãos e estava pronto para golpear com toda força a cabeça de seu
oponente, mal acreditando no golpe de sorte, quando notou algo estranho. O animal
estava tendo convulsões. Todo o corpo do animal tremia de forma descontrolada. Ele
parecia estar em agonia. O que estaria acontecendo com ele? Este era o pensamento
na cabeça de Ronaldo quando algo ainda mais extraordinário acontece. A criatura,
do período Cretáceo, estava desvanecendo como uma bruma sob o calor do Sol. E
continuou assim até que não restasse rastro algum de sua existência.
O
rapaz esgotado, encostado na porta trancada, abaixou os braços deixando a barra
cair, pesada, no chão. Tentado recuperar o fôlego, se sentou arrastando as costas
na porta.
-Mas
que merda aconteceu aqui? – Foi a única coisa que Ronaldo conseguiu dizer.
* * *
Valeska
está sentada de frente para as equações nas paredes quando a porta da sala se
abre. Uma expressão de alívio surge em seu rosto quando vê seu colega de
classe, e amigo, entrar por ela. Ela corre e o abraça forte ao que ela é prontamente
correspondida.
Ronaldo
aparenta estar exaurido então, desaba sobre o sofá. Depois de alguns minutos de
descanso e de comer alguma coisa que sua amiga lhe trouxe da cozinha, ele
relata como conseguiu escapar da morte certa.
-Ele
desapareceu!?
-É.
-Como?
-Não
faço ideia... Acho que a gente nunca vai saber...
Ronaldo
voltou sua atenção para as fórmulas matemáticas. Deu uma espreguiçada e se
levantou do sofá.
-Bom...
com base no que acabou de acontecer, acho que a gente não tem muito tempo. Vai saber
o que mais vai sair da névoa, não é mesmo?
Valeska
acenou com a cabeça.
Ronaldo
continuou.
-Vê
essas sequências aqui. São muito parecidas com parte das equações que vi nos
arquivos de Medvedev. Minha teoria é que, quem quer que tenha escrito isso utilizou
o que o professor maluco usou para tentar encontrar um jeito de entrar e também
de sair daqui.
-Faz
sentido. Então, você acha que dá pra gente achar uma maneira de sair daqui?
-Não
só de sair. Se eu estiver certo, podemos fazer muito mais.
Ronaldo
começou a escrever na lousa e continuou até chegar a um resultado. Depois aplicou
esse resultado em uma formula que viu nos arquivos de Medvedev e então,
exclamou:
-ISSO!
-Se
isso estiver certo podemos sair daqui e ainda arrumar toda essa bagunça!
-Como?
-Esses
números são coordenadas que, se entramos na névoa na velocidade correta podemos
sair daqui momentos antes de.... O que foi?
Havia
uma expressão estranha no rosto de Valeska.
-Olha
só! Essas são as formulas que já estavam escritas na parede quando nos
encontramos...
-Sim,
e daí. – Ronaldo não estava entendendo onde ela queria chegar.
-...e
essas você acabou de escrever...
Ronaldo
ainda não tinha pegado o ponto.
-A
caligrafia é a mesma! Ronaldo, foi você quem escreveu tudo isso!
Continua...
Conto: Parte 7 - DMC-12
Reviewed by Tulio Roberto
on
12/21/2016 03:08:00 PM
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