Conto: Parte 6 - A Loucura de Medvedev
-Então, está me dizendo que
aquilo que aconteceu no corredor há um tempo atrás era vocês
tentado entrar em contato comigo?
-Isso. Foi nossa primeira
tentativa.-Respondeu Valeska.
-E a música favorita da minha
mãe?
-Aquilo foi ideia da Iliana, ela sabia que quando ouvisse a música saberia que era uma tentativa de contado. Nosso próximo passo seria um arquivo de áudio. O fato dela tocar no player no momento que nos encontramos mostra que nossos cálculos não levaram em conta as distorções temporais aqui dentro. Era para ela aparecer logo em seguida ao que aconteceu no corredor.
-Como você conseguiu voltar pra
cá?
-Apesar de nossos esforços não
conseguimos enviar nada além da música. Então nos ocorreu uma
ideia. O velho ônibus. Ele ainda estava na zona de exclusão se a
telemetria ainda funcionasse, ela funcionaria como uma ponte entre o
lado de fora e este microverso. Poderíamos fazer com que você o
trouxesse de volta. O plano era entrar no ônibus e aguardar você
chamar o veículo de volta. Então, fizemos os reparos necessários
para ele poder andar. Eu me voluntariei para ir, me escondi num
compartimento que a gente montou e provocamos uma falha na
telemetria, o resto você já sabe.
-Por que se escondeu?
-Foi sugestão do pessoal do
programa espacial. Eles sugeriram que você poderia ter sofrido danos
emocionais graves com o tempo de solidão, segundo os testes que
fizeram simulando viagens espacias longas. Eles me orientaram a observa-lo por algum tempo até ter certeza de que era seguro.
Ronaldo ficou pensando na história
que Valeska acabara de lhe contar. As discrepâncias entre os
contatos e sua chegada podiam significar alguma coisa. Esses
pensamentos borbulhavam em sua mente quando chegaram ao prédio da
reitoria. Ao chegarem na porta do anexo perceberam que ela estava
bloqueada e haviam vás manchas escuras diante dela.
-Parece que estavam tentando
entrar. - Disse Ronaldo.
-Alguém bloqueou a porta…
-Acho que a gente sabe quem foi,
né? Venha, vamos encontrar outra entrada.
Não demorou muito e encontraram
uma janela onde puderam entrar, depois de arrombar. Entraram em um
depósito cheio de equipamentos eletrônicos.
-Tá escuro aqui… Sem energia. -
Disse Ronaldo após verificar um interruptor.
Abriam a porta e encontraram um
corredor escuro. Assim que seus olhos se acostumaram com a escuridão
notaram uma luz tênue que iluminava a passagem. Depois de uma boa
observada, Ronaldo não pôde ver muita coisa e nem ouviu qualquer
ruído que seja.
-Acho que não tem ninguém mas,
vou levar isso de precaução. - E pegou um pé de cabra que estava
encostado num canto do depósito. - Fica perto de mim.
Valeska apenas acenou com a cabeça
em silêncio, a tensão era evidente em seu rosto. Há medida que
andavam pero corredor, notaram que o brilho se intensificava.
Chegaram até uma grande porta automática de metal, ela não possuía
nenhum tipo de painel para abri-la. Então, notaram um forte brilho
saindo por uma porta há alguns metros da porta automática. Com
cautela, eles se dirigiram até lá, Os dois cerraram os olhos devido
à intensidade da luz reinante na sala, mal podiam abri-los, Havia
uma grande abertura na parede logo me rente a eles por onde entrava
um brilho intenso, era como se estivessem olhando diretamente para o
Sol. Com dificuldade, Valesca achou um terminal de computador, ainda
funcionava, digitou alguns comandos e logo a luz foi diminuindo.
-O que você fez?
-É um vidro usado em laboratórios
de testes de foguetes experimentais. Ele possui um filtro para
diminuir a intensidade do brilho dos queimadores para uma melhor
observação dos testes. - Explicou Valeska apontando para a janela.
-Mas, que merda é essa? -
perguntou Ronaldo, olhando para a janela de observação.
Com o filtro ligado o casal pôde
ver uma estrutura em arco e no centro uma esfera brilhante. Dela,
ocasionalmente, saiam arcos brilhantes de energia que logo diminuíam.
-Parece uma miniestrela!
-Incrível! Com certeza essa
estrutura em volta deve servir para contenção.
Olhando em volta Ronaldo observou
que, onde estava, era a sala de controle do experimento de Medvedev.
Haviam muitos terminais e painéis de medição. E no console
central, havia um corpo debruçado sobre ele.
-Medvedev? - Peguntou Valeska.
-Com certeza. O console torrou e a
descarga deve ter levado o infeliz junto. Ele morreu no momento em
que ligou a máquina. Alguma coisa deu muito errado. - Ronaldo tinha
uma expressão de nojo no rosto.
-Isso é lógico. Esse era para
ser um dispositivo antigravidade só que, ao que parece, ele criou
uma distorção espaço temporal que ferrou com tudo.
-Ela pode ser desligada?
-Não sabemos o que pode acontecer
se a desligarmos. Segundo as pesquisas que Olaf fez com base no que
conseguimos das forças armadas, há inúmeras possibilidades, desde
não acontecer nada até gerar um buraco negro que pode tragar todo o
planeta.
Acessando um terminal secundário,
Ronaldo encontrar dados que chamam a sua atenção.
-Olha só! Achei uma espécie de
diário da experiência! Segundo isso aqui Medvedev queria não só
criar um dispositivo antigravidade e sim uma máquina que manipulasse
a gravidade! Segundo esse arquivo, os testes iriam começar no dia em
que ocorreu o Evento. Ele ainda diz que haviam pessoas que eram
contra ligarem a máq1uina sem antes uma avaliação detalhada de uma
equipe.
-Tá bom que o Medvedev ia deixar
alguém avaliar um projeto dele. O cara tinha o ego do tamanho de um
Antonov!
-Acho que isso explica as manchas
na entrada do prédio.
-Olha! Dá uma olhada nisso aqui!
- Exclamou Valeska apontando para o monitor.
-Fórmulas matemáticas! Com
certeza são as que ele usou para desenvolver seu projeto.
-E, só que eu vi fórmulas
parecidas com essas em outro lugar.
-Onde?
-Na parede da sala onde nos
encontramos.
Aquilo deixou Ronaldo ainda mais
intrigado quanto à origem das fórmulas escritas na parede da sala
de controle. Vasculhando o conteúdo do diário, Ronaldo encontrou um
link para um arquivo de vídeo. Abrindo o arquivo, apareceu no
monitor uma simulação do modelo matemático. A simulação mostrava
um plano tri dimensional que representava as três dimensões do
espaço mais o tempo. À medida que a gravidade era acrescentada ao
plano, este ia se curvando e o tempo convergia para dentro da
curvatura, quando a gravidade diminuía a curvatura era do lado
inverso e o tempo criava uma trajetória saindo dela. O processo
se repetiu até quando a gravidade aplicada transformou a curvatura
numa esfera perfeita e o tempo passou a agir como a linha que o
eléctrons desenhos ao redor do núcleo de um átomo só que, ao
invés dele circundar a esfera ela penetrava nela e saia do outro
lado. Ao se formar a esfera emitiu uma quantidade enorme de energia.
Os dois ficaram espantados ao ver o vídeo da simulação.
-Será que ele não levou em conta
uma situação dessas? - indagou Valeska.
Ronaldo voltou ao arquivo do
diário.
-Ele diz aqui que criou
salvaguardas contra qualquer falha ou perigo.
-Que, com certeza, não
funcionaram!
-E tem mais, ele raciocina que
caso esse tipo de coisa realmente acontecesse, um simples
desligamento do dispositivo não seria o recomendado. Porque a
energia necessária para manter esse campo gravitacional seria
liberada poderia ser de duzentas a trezentas vezes mais forte do que
a energia liberada na formação da esfera.
-Isso pode significar a devastação
do planeta inteiro!
Valeska estava atordoada.
Cambaleou um pouco e se sentou em uma cadeira próxima.
-Vim aqui pra nada…
-Como assim? Pensei que tinha
vindo aqui me tirar desse lugar?
-Esse era um dos motivos. Mas o
principal era desligar a máquina. Essa era a única maneira de
sairmos daqui.
O tempo passou, eles ficaram ali,
na sala de controle do anexo, em silêncio. Valeska desolada pois,
todo o trabalho de sua vida fora em vão, Ronaldo, que perdera
qualquer esperança de ver Iliana ou o mundo exterior, assitia vez
após vez o vídeo da simulação. Ele repassava em sua cabeça cada
segundo do vídeo e o que mais lhe chamava a tenção era como o
tempo se comportava, passando através da esfera. Pensava no modo o
módulo levou seus ocupantes para uma época futura e como sua colega
de classe tinha envelhecido em apenas três meses. Então, se lembrou
dos relados dos primeiros que se aventuraram na névoa, as criaturas,
os vultos. Tudo aquilo não se encaixava, era uma bagunça que mais
parecia um roteiro de filme B de ficção científica. De repente,
Ronaldo teve uma epifania, as fórmulas na parede de sua sala, eram
parecidas, como Valeska havia dito. Teriam alguma ligação? Sim!
Estava claro, agora! A solução estava na sua frente o tempo todo.
Ronaldo se levantou da cadeira, Valeska levou um susto quando foi
puxada pela mão.
-Vem! Tem um jeito de sair daqui!
-C-como? Não podemos desligar o
equipamento! Seria desastroso!
-Tem um jeito, acredita em mim!
Depois de muito tempo, a esperança
reacende no coração de Ronaldo. Esperança de que ele possa sair
daquele pesadelo que ele tem vivido nos últimos meses. Eles andam
apressados pelos corredores do prédio, Valeska mal consegue
acompanhar Ronaldo, que parece ter esquecido que sua companheira é
uma mulher idosa. Ronaldo não foi para o depósito, por onde
entraram, foi para a porta da frente, retirou os móveis que
bloqueavam a passagem e abriu a porta.
-Espera, Ronaldo! Quer me dizer o
que está acontecendo?
-Não dá pra explicar! Tenho que
mostrar! Acho que tem um jeito de acabarmos com isso!
Nesse instante um som corta o ar,
um som agudo como o som de uma grande ave. Só que mais alto e
tenebroso do que qualquer outra que, talvez, conheçam. Olhando ao
redor, não demora muito para encontrarem a origem do som. Há cerca
de um vinte metros, saindo da parede de névoa, uma criatura que os
dois só conheciam de filmes e dos documentários do Discovery
Channel.
Não acreditando no que seus olhos viam, Valeska balbuciou:
Não acreditando no que seus olhos viam, Valeska balbuciou:
-Ronaldo! É um… um…
-Velociraptor! Agora merdiou de
vez!
Continua...
A Parte 07 já está no ar!!
Conto: Parte 6 - A Loucura de Medvedev
Reviewed by Tulio Roberto
on
12/21/2016 03:12:00 PM
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