Quadrinhos: Odisséia Cósmica
Assim
como acontece no Universo, com seus planetas e estrelas, alinhamentos
de mentes brilhantes do universo dos quadrinhos são raros de
acontecer. Mas, quando acontecem, o resultado são obras que ficam
cauterizadas na mente do fã de quadrinhos. Histórias publicadas a
vinte, trinta anos ou mais, ainda povoam as lembranças dos que
tiveram a sorte de acompanhar in loco, página a página,
quadrinho por quadrinho, enredos épicos que ocorriam em terras,
planetas ou galáxias distantes.
E
foi justamente num deses encontros raros que dois grandes corpos
celestes desse universo quadrinístico se alinharam para produzir uma
aventura que reunia os personagens mais poderosos da DC Comics.
Contra uma ameaça que colocava em risco a vida de todo aquele
universo. E não é sempre assim? Que, para impedir o fim de tudo,
eles entrariam numa viagem cujo destino estaria além das fronteiras
físicas de sua realidade. Uma Odisseia Cósmica.
Jim
Starlin acabara de sair da Marvel onde fizera um ótimo trabalho com
Tanos. Trabalho esse, que de tão bom, vemos repercussões até hoje,
não só nos quadrinhos mas no cinema, principalmente. Mike Mignola
havia ingressado no cast de profissionais da editora um pouco antes.
Dono de um traço bem característico, já havia trabalhado na
revista do Batman.
Starlin
queria escrever uma saga com os personagens que mais simbolizavam a
faceta cósmica da Editora, na Terra tínhamos ícones como o
Superman, Lanterna Verde, Ajax (ou Caçador de Marte), Estelar e
tantos outros, mas o que mais identifica o universo DC, quanto a sua
vastidão cósmica, é uma criação de outra mente brilhante dos
quadrinhos, que também viera da editora concorrente, Jack Kirby.
Quando
Kirby chegou à DC seu universo estava focado nos acontecimentos da
Terra, seus personagens dificilmente saiam da área de influência do
terceiro planeta do sistema solar. Por isso, os personagens cósmicos
não tinham tanta relevância como na Marvel que tinha suas entidades
cósmicas como os Celestiais, Galactus, etc. Kirby recebeu a
incumbência de “reativar” esse departamento. Como resultado da
empreitada surgiram dois corpos celestes no firmamento do Universo
DC, Nova Gênese, lar dos Novos Deuses e sua contraparte sombria,
Apokolips dominada com mão de ferro pelo ambicioso Darkseid. A
História desses dois povos é tão rica que merece um post só sobre
ela.
Quando
concebeu o roteiro de sua Odisseia, Starlin foi apresentado a
Mignola. Seu traço se encaixava perfeitamente a uma história com os
Novos Deuses, porque, apesar de o artista ter sua própria identidade
visual, seu traço remetia ao traço de Kirby. É possível ver
claramente a influência que os quadrinhos desenhados pelo mestre
exerceu na mão de Mignola. Era a escolha perfeita.
Sob
influência dos recentes êxitos da editora na década de 80, como
Cavaleiro das Trevas, e com um universo recém-reformulado pela Crise
nas Infinitas Terras, Odisseia Cósmica serve como um
restabelecimento dos Novos Deuses. A origem da rivalidade dos
planetas é recontada em forma de flash back logo no início da saga.
Assim como a origem do maior desejo de Darkseid, dominar a equação
antivida, conceito que Kirby havia criado, mas não se aprofundara na
época. Aqui, Starlin dá uma “cara” de Marvel a esse conceito.
O
roteirista habilmente cria situações interessantes ao unir
personagens que tem diferenças entre si. Um bom exemplo é a dupla
formada por Superman e Orion, que é filho de Darkseid e que, apesar
de ter sido criado pelo Pai Celestial, deixa claro que o fruto não
cai longe da árvore. O roteiro consegue dar relevância até mesmo à personagens sem poderes cósmicos como a dupla Batman e Forrageador
que protagonizam uma das melhoras partes da trama.
Outro
ponto alto é a parte que mostra que os personagens DC, após a
reformulação, agora são mais humanos, quadro muito bem retratado
pela missão dada a John Stewart, um Lanterna Verde, e o Caçador de
Marte, na época conhecido como Ajax, o Marciano.
Como
esperado, os heróis conseguem derrotar o inimigo. Mas, alguns
pagaram altos preços para isso, Senhor Destino e o Lanterna Verde
teriam que carregar o fardo de suas decisões pelo resto da vida Mas
os que mais tiveram perdas foram Jason Blood e Forrageador que
tiveram que abrir mão de seus bens mais preciosos em prol da
vitória.
Mignola
ainda não tinha um traço tão angular que ele transformou em marca
registrada nos seus anos com Hellboy, Mas já chamava a atenção,
visto que a década de oitenta marcou a divisão entre uma arte mais
naturalista de artistas com Sal Buscema ou John Byrne para uma arte
com um traço mais pessoal, com a cara do artista. Frank Miller, Mike
Mignola e Bill Sienkiewicz são belos exemplos dos artistas que
ditaram regra nos quadrinhos da época.
O
modo como ele faz os enquadramentos, luz e sombra, revelam o cuidado
em criar todo o clima para que o leitor não queira perder nenhum
detalhe. Eu mesmo perco algum tempo apenas examinando os detalhes das
páginas em que Mignola retrata Nova Gênese.
Todas
essas características e muitas outras, que não coloquei aqui, fazem
de Odisseia Cósmica um item obrigatório na estante de todo fã de
quadrinhos.
Quadrinhos: Odisséia Cósmica
Reviewed by Tulio Roberto
on
2/20/2017 10:45:00 AM
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