O Dia Em Que a Música Queimou

Incêndio nos estúdios da Universal, em 2008

Você sabe o que é uma "master"? 

Quando falamos de música volta e meia a gente ouve esse termo, mas o que é uma "master", afinal?

Em termos gerais, master é a gravação ou conjunto de gravações geradas quando um artista entra em um estúdio para gravar um novo trabalho, seja um single ou álbum completo. Hoje é tudo digital, mas antigamente essas gravações eram armazenadas em fitas magnéticas como as dos velhos tape deck's que tínhamos em casa. Durante a gravação, os componentes da música eram gravados cada um em um canal separado, as chamadas pistas. Depois do trabalho pronto e lançado, as "masters" eram enviadas para um arquivo da gravadora e lá ficavam guardadas para que no futuro pudessem ser usadas novamente.

Essa, é uma fita master.
No inicio de Junho de 2008, ocorreu um incêndio em uma propriedade da Universal Stúdios, na California. Foram consumidos pelas chamas cenários de filmes como Harry Potter e o clássico Monstro da Lagoa Negra, além de vários outros prédios. A notícia correu como fogo no mato seco. Em declarações para imprensa a direção do estúdio afirmou que as perdas não eram tão grandes quanto pareciam e que o que havia nos prédios era só uma pequena parte do arquivo da empresa.

O tempo passou, e a história havia sido empurrada para debaixo do tapete. Até que, em junho de 2019, onze anos após o incidente, O The New York Times publica uma matéria onde mostra a real extensão do desastre.

Na matéria, o repórter, mostra que um dos prédios, o 6197, atingido em cheio pelas chamas,  era simplesmente o maior depósito de masters do grupo UMG (Universal Music Group), uma das maiores gravadoras do mundo. E que praticamente tudo se queimou naquele dia. Gravações originais de nomes como Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Tupac Shakour, Nirvana, Tom Petty e Elton John viraram fumaça. Segundo o arquivista chefe do depósito, haviam fitas de trabalhos nunca lançados do Nirvana e vários outros nomes conhecidos. 

Lembra da comoção que o incêndio do nosso Museu Nacional causou há um ano? Aconteceu algo parecido no meio musical quando essa matéria foi publicada. Vários artistas e familiares dos que já faleceram entraram com uma ação coletiva milionária contra a Universal. Se quiser ler a reportagem completa do NYT, em inglês,  é só clicar aqui.

Mas você pode pensar: "Mas a gente sempre vai ter os discos e os mp3 da vida..." Sim, sempre teremos, o problema é que são cópias. E, em termos sonoros, uma cópia sempre é de qualidade inferior ao material original. Os discos, são cópias das masters, o mp3, é cópia dos discos. Nuances das vozes, frequências dos instrumentos, informações valiosas assim sempre se perdem no processo de transposição do áudio das masters para as mídias. Por isso se guardavam as fitas, para que em algum momento, se pudesse reutilizar e lançar uma material mais fiel à gravação original.

Tupac Sakour
Lembra daqueles CD´s de clássicos do rock que vinham com o selo "Remasterizado" na capa?

Vou dar um exemplo, para se produzir uma reedição do álbum Machine Head, do Deep Purple, alguém foi até os arquivos, resgatou as masters desse álbum, restaurou o material o mais fiel possível, editou e remixou. Tudo isso para trazer um material mais fiel do que os velhos discos de vinil poderiam oferecer. E isso não é possível de se fazer com uma gravação de um vinil, CD e muito menos um mp3! 


Isso ilustra o tamanho da perda que esse incêndio causou. Gravações históricas e inéditas foram perdidas para sempre. Uma coisa muito triste para aqueles que amam a música.
O Dia Em Que a Música Queimou O Dia Em Que a Música Queimou Reviewed by Tulio Roberto on 9/06/2019 08:55:00 AM Rating: 5

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