Conto - Parte 9A - Revelação
Valeska se apressava para chegar, perdera muito tempo despistando os militares que estavam bloqueando a entrada do prédio. Agora, corria para alcançar seu colega de classe. Ela achava engraçado isso, como explicar um rapaz de vinte e poucos anos poder ser colega de classe de uma senhora já com seus setenta? Esse era o menor dos absurdos de toda aquela situação. Para Ronaldo ele apenas voltou para casa, já ela realizou uma completa viagem no tempo, com direito a uma escala no Limbo.
Ela
tinha pressa, passou direto pela entrada do edifício, sabia que
estava bloqueada, se dirigiu para a passagem lateral onde sabia que
encontraria a mesma janela do depósito por onde entraram enquanto
estavam no Limbo. Foi assim que ela passou a chamar o local ou época
onde Ronaldo passara os últimos três meses sozinho.
Assim
que ela se aproximou da passagem lateral notou algo estranho.
Diminuiu
o passo abruptamente.
Sua
mente se encheu de receio, ela viu um corpo caído, de bruços, no
piso cimentado perto da janela ainda fechada, deu mais alguns passos
e ela percebeu que era Ronaldo quem estava ali. Um calafrio correu
sua espinha de alto a baixo. O que teria acontecido? Será que
Medvedev o encontrou e deu cabo de sua vida?
Com
a mente inundada de perguntas, ela se aproximou do corpo do rapaz, o
virou, e verificou seus sinais vitais. Ele respirava com alguma
dificuldade, parecia que tinha sido anestesiado. Ela não sabia o que
fazer, então, com alguma hesitação, ela balançou a cabeça do
amigo, tentando provocar alguma reação.
Nada.
Tentou
mais uma vez, só que, com mais força.
Sem
resultado.
A
senhora se afastou sem saber o que fazer. Pensou em procurar ajuda,
mas que desculpa daria se alguém lhe perguntasse o que eles estavam
fazendo ali?
Ela
estava pensando numa saída quando seu amigo repentinamente abre os
olhos e inspira violentamente, como se recuperasse o fôlego. Não é
necessário descrever o enorme susto que Valeska tomou.
Ele
se sentou, ofegante, passou a mão no rosto e pescoço. Tateou as
costas, parecia que procurava alguma coisa. Valeska se recuperou do
susto e assistia a cena. Foi quando ela chamou pelo amigo.
-Ronaldo!
Ele
continuou sua busca.
-Ronaldo!
- ela aumentou o tom de voz e segurou suas mãos.
Foi
quando ele percebeu a presença de sua companheira de viagem.
Confuso, olhou em volta.
-Eu…
Eu nem cheguei a entrar...?
-Entrar?
- Indagou Valeska - Quando cheguei aqui você estava estirado no
chão, como se tivesse sido golpeado! Achei até que tava morto!
-Não!
Eu entrei! Cheguei até a sala de controle! Foi quando Medvedev
atirou em mim… pelas... costas….
-Acho
que está claro que não foi isso o que aconteceu!
Depois
de pensar um pouco, Ronaldo chegou a uma conclusão.
-Só
se foi outra visão…
-Igual
a que você teve dos soldados te prendendo?
-É…
Só que muito mais real…
Ronaldo
se levantou com um pouco de dificuldade.
-A
gente já perdeu muito tempo! Vem, vamos entrar!
Ronaldo
abriu a janela, foi quando Valeska segurou seu braço.
-Espera!
Tem certeza que quer continuar? E se o que viu acontecer mesmo?
Ronaldo
pensou um pouco.
-Se
acontecer, já sei como me preparar. - respondeu, tentando passar
segurança à amiga.
-Como
assim?
-Vem
comigo! - E pulou pra dentro do depósito.
Os
dois tatearam no escuro, não quiseram acender as luzes do depósito
para não chamar atenção. Quando achar a porta da saída esperaram
alguns instantes, tentaram identificar algum movimento no corredor.
Quando se sentiram seguros, Ronaldo abriu a porta com cuidado. Não
viram ninguém.
Prosseguiram
com cuidado até chegarem à sala de controle. Entram e, como na
visão de Ronaldo, estava vazia.
-Toma
cuidado, ele está armado com uma pistola.
-E
como a gente vai se defender dele?
-Com
isso aqui. - Ronaldo estava segurando um fuzil Kalashnicov. - Quando
ele estava prestes a atirar na minha cabeça, virei o rosto, então
vi esse AK47 encostado no canto.
-Ele
deve ter encontrado na sala da segurança. - Raciocinou Valeska. -
Onde ele está agora? Por que não está aqui?
-Ele
deve ter ido verificar a entrada. Sei lá! E o equipamento?
-Realizando
o diagnóstico do sistema, vai levar uns dez minutos.
-Você
chegou a ver como se desliga?
-Não,
Medvedev chegou antes. Vou ficar de olho na porta veja o que
consegue.
-Estudei
os poucos documentos que restaram desse projeto, mas não tenho
certeza se consigo.
-É
melhor do que nada. Corre que a gente tem pouco tempo!
Menos
de dez minutos, esse é o tempo que Valeska tem para impedir o maior
acidente causado pela ciência moderna. Ela está nervosa, não sabe
se está à altura da tarefa, está aflita por que sabe o que vai
acontecer se falhar e não suportaria passar por tudo aquilo de novo.
0:07:00
O
suor brota em sua testa marcada pela idade. Ela não consegue achar
uma maneira de desligar a máquina infernal.
0:06:32
Enquanto
vasculha os computadores, ela encontra mensagens trocadas entre
membros da equipe de Medvedev, que trabalhava no projeto da máquina
antigravidade. Uma em particular chama sua atenção.
-Ronaldo!
Corre aqui!
-Fala
baixo! Quer que ele escute a gente? - disse Ronaldo em tom
repreensivo enquanto corria na direção da amiga.
-Olha
isso! Leia!
Ronaldo
se curvou, ainda segurando o rifle apoiado no pescoço pela
bandoleira, para poder ler o que a amiga mostrava. Eram mensagens
enviadas há poucos dias, uma lhe chamou a atenção.
Medvedev:“Aqueles bastardos do Lebedev não querem que liguemos o equipamento. Tem medo de uma nova Chernobyl!”
Ilyiana“Eles não têm o direito de nos impedir! Não passam de burocratas invejosos! Você tem que ligar a máquina e mostrar pra eles que estão errados! Faça a Rússia grande de novo!”
Seguei“Apoiada!”
Prof. Medvedev“Já que me apoiam, assim que voltar de Moscou vou ligar o equipamento. Pela Mãe Rússia!”
Ilyana“Pela Mãe Rússia!”
Continua amanhã.
Conto - Parte 9A - Revelação
Reviewed by Tulio Roberto
on
4/04/2017 08:45:00 AM
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