D2 - Horror Cósmico e LSD
D2, 1999
Warp
SEGA DreamCast
Quando o assunto é videogame, sou aquele tipo de pessoa que gosta de escavar e procurar jogos que estão abaixo da camada dos sucessos da geração ou do console. As chamadas “hidden gems” ou joias ocultas no bom e velho português. Existem várias listas desse tipo pela internet, mas como sou chato, prefiro eu mesmo fazer minhas buscas.
Foi numa dessas garimpadas que me deparei com D2 para DreamCast. Numa primeira olhada, parecia mais um Survival Horror que tentava acompanhar a onda iniciada com Resident Evil, da CAPCOM. Mas depois de algum tempo jogando vi que as semelhanças paravam por aí. É importante dizer que nunca tinha ouvido falar desse título mesmo porque o DreamCast é um console bem obscuro pra mim. Tive muito pouco, ou nenhum, contato com ele. Lá pelo meio da jogatina descobri que esse era o segundo jogo da franquia. Sério, nem me toquei que o “2” do título indicava que o jogo era uma continuação e que “D” era o nome dele.
O jogo começa com Laura, a protagonista, a bordo de um voo comercial que está sobre o Canadá, na véspera de natal do ano 2000. Nesse momento dois passageiros sacam metralhadoras e anunciam a chegada do “Grande Destruidor”. Em meio a confusão e tiroteio o avião é atingido por um meteoro e cai numa região isolada e coberta de neve. Após o acidente, Laura acorda numa cabana, no meio do nada, em companhia de uma outra passageira, Kimberly, dizendo que a encontrou desmaiada na neve e que ficou desacordada por vários dias. E ainda que outros passageiros sobreviventes se transformaram em criaturas parecidas com plantas depois que algum tipo de parasita se instalou em seus corpos e deixou seu sangue verde.
Isso tudo é mostrado durante uma longa cut-scene e quando você acha que vai finalmente pegar no controle e jogar de fato, vem um tutorial. O jogador só vai começar a jogar mesmo, cerca de 15 ou 20 minutos depois de o jogo ter começado. Nas áreas externas, a movimentação da personagem é igual a Resident Evil, o chamado controle tanque, o jogador pode andar por toda a área livremente e pode encontrar itens como spray de primeiro socorro e munição. Nas áreas internas a visão muda para primeira pessoa e o jogador pode explorar o ambiente direcionando o olhar da personagem. Ela está equipada com uma submetralhadora, mas vai encontrando outras armas durante o game.
As batalhas acontecem nas áreas externas de forma aleatória, como nos JRPG’s de 16 bits. As criaturas brotam da neve e atacam a protagonista. As lutas também são em primeira pessoa, porém a personagem não se move. O jogador usa o direcional para movimentar a mira e os botões X e B para virar para a direita ou esquerda para atingir inimigos que estão ao seu redor. Isso é um problema por que dificulta muito ao tentar evitar ser atingido, já que para impedir um ataque é necessário atingir o inimigo antes dele chegar perto o suficiente. Há um sistema de pontos de experiência, mas ele só serve para aumentar os hit points da personagem.
Bom, o que falar desse jogo? Confesso que iniciei o jogo achando que era uma coisa e encontrei outra. O enredo é bem arrastado, se valendo de longas cut-scenes. Arrisco até a dizer que o tempo das cenas é maior do que o de game play. E o fato de não haver legendas, mesmo em inglês, dificultaram bastante a compreensão da história que envolve o motivo da extinção dos dinossauros e uma eminente extinção da raça humana provocada pelo tal Grande Destruidor.
Aliás, que história viajada! Profecias, Grande Destruidor, Grande Mãe Terra, bichos-plantas e uma protagonista desmemoriada, é tem isso também. Durante o game eu ficava imaginado a quantidade de LSD e psicotrópicos que o roteirista consumiu para escrever esse enredo.
No final, entendi que todo o jogo foi uma alegoria que usa o horror cósmico para alertar sobre os males que a humanidade tem causado ao nosso planeta. Tanto que no final são exibidos dados, da época do lançamento, como população mundial, previsão dessa população em 2100, espécies extintas e ameaçadas de extinção, quantidade de pessoas passando fome e etc.
Pesquisando um pouco mais descobri que o produtor e roteirista, Kenji Eno, era um artista conceitual e músico que trabalhou em vários games do gênero FMV para o 3DO, todos eles “fora da caixa” ou tratando de temas indigestos, como o primeiro D, que aborda o canibalismo. Lendo a biografia dele dá pra entender porque esse jogo gerou um desconforto em mim. Além disso parece que ele teve uma ajudinha de um tal Hideo Kojima, já que o nome dele está nos agradecimentos especiais, nos créditos. Esquisitice é pouco pra esses dois.
D2 é um survival horror que apresenta uma história confusa para os padrões ocidentais e que pode afastar jogadores mais acostumados a jogos com essa temática, mas mais focados no game play do que nas cut-scenes. Porém, pode levar o jogador a uma reflexão sobre o impacto que nossas ações podem causar no nosso belo e frágil planeta. Nos fazendo questionar se já não era hora de uma nova extinção em massa. Ou não.
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